Velejando em solitário na Praia do Morro, usando como equipamento a cadeira de plástico, a vela VK sem costuras e a nova bolina, virei com o Veleiro K.
A cadeira de plástico muda o centro de gravidade do barco e eu estava em processo de adaptação ao novo equilíbrio.
Veleiro K - Configuração do dia da virada |
Eu saí da área da Escola de Vela, a guarderia na Praia do Morro em Guarapari ES, a maré grande de lua cheia era vazante e estava com toda a sua potência empurrando para alto mar. Passei perto de 2 pessoas que remavam "Stand-up" sem coletes salva vidas. Eles me perguntaram se o barco tinha sido feito por mim, eu respondi e pedi que não remassem sem portar coletes, principalmente naquelas condições de mar, pareciam uma dupla de pai e filho, o garoto parecia ter em torno de 14 anos.
Me afastei da dupla e cambei em direção ao alto mar. O vento estava médio, mas com muitas rajadas, provenientes das montanhas que cercam Guarapari. Para experimentar a orça oferecida pela Vela VK em conjunto com a nova bolina que desenvolvi, coloquei a bolina na vertical e começava a aferir o ângulo de orça, quando repentinamente o Veleiro K começou a adernar e mesmo largando a escota, não teve jeito, virou e me vi dentro d'água.
Um momento para alguns esclarecimentos: Eu portava colete salva vidas, tinha todos os componentes do barco amarrados; levava 2 âncoras, com cabos suficientes. Eu na minha juventude fui atleta de polo aquático. Durante muitos anos velejei em regatas com Snipe, nos ventos fortes de Vitória ES e nunca virei. Participei em muitas comissões de regatas e salvatagem. Inúmeros resgates de barcos virados e capotados, ajudei a recuperar em vários campeonatos, mas nunca tinha acontecido comigo.
Na água e avaliando a situação, agradeci a sábia decisão que tomei, de colocar as 2 bóias infantis de braço no topo do mastro. As bóias garantiram a flutuação do mastro, o que é decisivo nesta hora, pois tudo ficaria mais complicado se o barco capotasse.
Veleiro K - Detalhe das bóias de braço que garantiram a flutabilidade do mastro. Útil também como sinalizador . |
O Veleiro K estava com a ama (flutuador) de boreste afundada, o casco na superfície e a ama de bombordo no alto. Rodeei o barco e tentei desvirar me apoiando na bolina, o barco não respondeu. Logo percebi, que podia ficar com os pés apoiados na ama de boreste, me apoiei com as mãos nos iakos (barras que seguram as amas) de bombordo e com facilidade desvirei o Veleiro K.
A 1ª fase estava resolvida, mas, como reentrar num caiaque oceânico de "cockpit" fechado? Eu sou um velejador de 61 anos de idade, baixo, gordo (117kg), sedentário ... Será que conseguiria?
Para a minha surpresa, consegui reentrar no caiaque na primeira tentativa. Me apoiei na ama com os pés e joguei meu corpo no "cockpit". Como o "cockpit" estava inundado, a linha d'água estava baixa, o que facilitou a reentrada. Mas, o barco estava instável e virou novamente.
Repeti todos os procedimento anteriores e consegui sucesso. Pequei a bomba de esgotar água e praticamente esgotei todo o
"cockpit" em poucos minutos.
A retranca estava fora do lugar, pois a boca de lobo tinha escapado da posição. Com a retranca no lugar, reparei que os dois moitões de passagem da escota tinham soltado da retranca. Mas, segurando a retranca com as mãos eu mareava a vela e seguia com a proa apontada para a Escola de Vela.
Fazendo uma inspeção geral, notei surpreso, que a ama de boreste estava com a proa solta, fora do eixo que é preso ao "iako" por uma porca borboleta. Daí, passei a ter a dúvida, será que virei devido a isto? Não entendi, como aquela borboleta poderia ter saído na virada. O Veleiro K ficou estacionado na guarderia por uma semana, enquanto eu estava em Vitória e alguém poderia ter surrupiado a porca ou afrouxado ... Permaneço com a dúvida ...
Sem a ama de boreste não conseguiria chegar ao objetivo na Escola de Vela, cambei em roda e mareado a boreste, apoiado na ama de bombordo, me dirigi ao meio da Praia do Morro, num través onde cheguei rapidamente.
Sol nascente próximo ao local da virada do Veleiro K |
Conclusões:
Eu estou me preparando para aventuras exploratórias em águas abrigadas brasileiras. Pretendo por exemplo explorar e divulgar a imensa Lagoa Feia no RJ. O mais provável é que isto aconteça em solitário. Eu necessito ser mais arrojado, com riscos sempre calculados.
Quando saio para velejar, sei que existe o risco de virar. Preparo minha mente para ocorrências de risco.
O Veleiro K foi a embarcação mais fácil de desvirar que já conheci. Já tive experiências até com Optimists virados e o K foi mais fácil.
O Genilson da Hidroglass Rio está de parabéns, tanto as amas, como o leme não tiveram problemas.
A Vela VK, foi excelente! Não atrapalhou em nada no processo.
Veleiro K, altaneiro, estacionado entre um Snipe e um Dingue. |
Rumo as aventuras 2012!
Gostei da aventura, valeu a experiência do capitão.
ResponderExcluirNada como um professor experiente para nos relatar como nos comportarmos em relação à segurança.
ResponderExcluirFoi o batismo no VK.
Apesar da idade e peso citado, voce é um cara safo tirando de letra, embora tenha passado um susto e tanto. Bons ventos. GENILSON
ResponderExcluirPor a caso salvou sua "poltrona"? Bons ventos, sempre.
ResponderExcluirWa Mor, A "poltrona" era emprestada pelo meu cunhado e estava atada ao caiaque. Toda a movimentação velejando, eu estava sentado nela. Devolvi ao dono e estou procurando uma igual na cor branca para comprar aqui em Niterói. Bons Ventos!
ExcluirParabéns Danilo, admiro seu espirito aventureiro!
ResponderExcluirQue aventura, mas como vc cita: Mares tranquilos não fazem marinheiros habilidosos. Bons ventos!!!
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